Face ao significativo crescimento do envelhecimento populacional e ao consequente aumento da prevalência das demências em adultos de idade avançada, é fundamental a existência de respostas que visem a melhoria e/ou superação das suas dificuldades (também) nos domínios cognitivo, emocional e comportamental.

 

O que é a reabilitação neuropsicológica?

É um dos grandes campos de atuação da Neuropsicologia, ciência que estuda as relações entre o cérebro e o comportamento. Refere-se, grosso modo, ao conjunto de intervenções que visam melhorar problemas cognitivos, emocionais e sociais decorrentes de algum tipo de lesão cerebral (consequência do processo de envelhecimento, de acidentes de viação, de quadros demenciais como a doença de Alzheimer, entre outras patologias), ajudando cada pessoa a alcançar mais autonomia e contribuindo para a melhoria da sua qualidade de vida.

 

A quem se destina?

A reabilitação neuropsicológica, para além de se dirigir a todos os indivíduos que sofrem de patologias provocadas por lesões cerebrais, justifica-se sempre que uma pessoa apresente dificuldades no funcionamento de alguma função cognitiva como atenção, memória, linguagem, raciocínio, perceção ou funções executivas.

Note-se que, apesar de existir um determinado grau de declínio das funções cognitivas associado à idade, este também é devido, em parte, à falta de uso de tais funções, pelo que pode ser prevenido e retardado se as mesmas forem estimuladas através de um treino adequado. Programas de reabilitação neuropsicológica podem assim, também, destinar-se a pessoas com um funcionamento normal com o objetivo de prevenir ou retardar situações de compromisso ou deterioração cognitiva.

 

Como é que é realizada?

Segue-se a uma avaliação neuropsicológica detalhada, concretizada através da aplicação de uma bateria de testes psicométricos que procuram conhecer o rendimento cognitivo funcional (a partir das suas relações com o funcionamento cerebral) e que permitem identificar o nível de prejuízo cognitivo do paciente, bem como as suas áreas preservadas. É a partir das informações obtidas pela avaliação neuropsicológica que se torna possível delinear um programa de reabilitação atendendo às necessidades e capacidades de cada um, visando sempre a recuperação das funções comprometidas para o seu nível máximo de potencial.

Trata-se de um conjunto de exercícios específicos determinados pelo psicólogo (ou outro profissional para quem este encaminhe, em função dos resultados da avaliação), direcionados para o fortalecimento e restauração das funções comprometidas, da melhoria das funções total ou parcialmente preservadas através do ensino de estratégias compensatórias, da aquisição de novas habilidades e da adaptação às perdas permanentes (se for o caso). Em todo este processo são considerados os aspetos emocionais, comportamentais e sociais de cada individuo, tendo em conta que os mesmos influenciam e assumem um papel crucial na sua recuperação.

 

Quais são os seus resultados e benefícios?

Existem diferentes variáveis que podem interferir na reabilitação neuropsicológica, nomeadamente as características do próprio quadro neurológico (local, extensão e gravidade da lesão, idade em que ocorreu, etc.), características biológicas e sociodemográficas (idade, escolaridade, estilo de vida, saúde em geral…), o envolvimento da família e a motivação e adesão da própria pessoa ao processo de reabilitação. Estudos neste domínio (nomeadamente associados às pesquisas de plasticidade cerebral e neuroimagem) têm, mesmo assim, demonstrado resultados significativos ao nível da melhoria dos componentes cognitivos deficitários, bem como de alguns aspetos emocionais (como a depressão), contribuindo para uma melhoria ao nível da qualidade de vida.

 

Andreia Costa