Enquanto pais fazemos quase tudo o que podemos para garantir que os nossos filhos sejam saudáveis, estejam protegidos e preparados para o sucesso. No entanto, quando se trata de beber álcool ou mesmo de consumir cannábis, parece existir uma tendência para percecionar o uso experimental como “um ritual de passagem”.
Devido a esta normalização social da experimentação, tem-se verificado que as pessoas têm maior probabilidade para começar a consumir drogas – incluindo tabaco, álcool e drogas ilegais e prescritas – durante a adolescência e no início da idade adulta. Os estudos relatam que quase 70 por cento dos alunos do ensino médio terão experimentado álcool, metade terá consumido uma droga ilegal, quase 40 por cento terá fumado um cigarro e mais de 20 por cento terão consumido medicação prescrita para um propósito não médico.
Os adolescentes estão “biologicamente programados” para a procura de recompensas prazerosas e para o evitamento da dor. No entanto, uma vez que os seus cérebros não se encontram totalmente desenvolvidos, as suas capacidades de julgamento e de tomada de decisão ainda se encontram limitadas. Para além disso, existe uma fragilidade narcísica na adolescência associada à tendência dos adolescentes se sentirem indestrutíveis e imunes aos problemas que os outros experienciam. Estes aspetos influenciam a capacidade dos adolescentes avaliarem os riscos e reconhecerem as consequências futuras associadas aos seus comportamentos.
Uma variedade de experiências adolescentes comuns pode se tornar uma “desculpa” ou motivo para o uso de substâncias, incluindo: o desejo por novas experiências, a tentativa de lidar com problemas, a necessidade de pertença a um determinado grupo, ter um desempenho melhor na escola ou a simples pressão dos colegas. Compreender as razões pelas quais os seus filhos bebem ou usam drogas é um passo valioso para mantê-los saudáveis e seguros.
Existem muitos sinais indicadores de que um adolescente está a consumir drogas. Pode ser difícil reconhecer a diferença entre as dificuldades normativas da adolescência e as dificuldades associadas ao consumo. Alguns sinais comuns de abuso de drogas por adolescentes incluem:
- Más notas;
- Olhos vermelhos;
- Riso sem motivo;
- Perda de interesse em atividades prazerosas ou de mestria;
- Pouca higiene;
- Diminuição da aparência pessoal;
- Evitamento do contato visual;
- Fome frequente e excessiva;
- Manutenção de segredos e/ou comportamento manipulador;
- Cansaço incomum;
- Incumprimento de regras e postura de rebeldia.
Apesar da maioria dos adolescentes “apenas” experimentar drogas, ao invés de desenvolver uma dependência, a experimentação, em si só, já é um problema. O uso de drogas pode fazer parte de um padrão de comportamento de risco, incluindo sexo inseguro, condução num estado de embriaguez ou envolvimento em outras atividades perigosas não supervisionadas. Nos casos em que um adolescente desenvolve um padrão de uso repetido, isso pode representar sérios riscos sociais e de saúde, incluindo:
- Fracasso escolar;
- Problemas com a família e em outros relacionamentos;
- Perda de interesse em atividades saudáveis “normativas”;
- Memória prejudicada;
- Risco aumentado de contrair uma doença infecciosa (sexualmente ou não transmissível);
- Problemas de saúde mental;
- O risco real de morte por overdose.
O efeito produzido pelas drogas representa uma “inundação” dos circuitos de recompensa do cérebro com níveis muito mais elevados de dopamina do que as recompensa resultante, por exemplo, do consumo de comida. Isso cria um impulso especialmente forte para repetir a experiência. O cérebro imaturo, já em luta para equilibrar o impulso e manter o autocontrolo tem, então, maior probabilidade de repetir o comportamento de forma a reforçar estas sensações prazerosas, o que pode vir a assumir uma importância na vida do adolescente desproprocional a outras recompensas. Assim, o consumo de substâncias é arriscado e não deve ser banalizado ou ignorado por adultos.
Natacha Cabete