A maioria das pessoas assume que a dependência envolve sempre álcool ou drogas. No entanto, a dependência manifesta-se como uma vulnerabilidade psicológica, com a pessoa a poder tornar-se dependente de quase tudo….ou, até mesmo, de qualquer pessoa. Tal acontece porque o estado subjetivo de “estar apaixonado” está intimamente ligado a reações bioquímicas no cérebro, que desempenham um papel no desenvolvimento da confiança, na criação de sensações de prazer e na sinalização de recompensas.
Uma vez que, de uma forma geral, podemos considerar o sexo e o amor, como inofensivos, quando estão presentes com moderação, a dependência ao sexo e ao amor não é medida a partir da quantidade mas, sim, a partir do impacto negativo e consequências associadas. Os estudos enfatizam a semelhança entre a experiência de alguém sob o efeito de certas drogas e a experiência bastante comum de alguém apaixonado – incluindo a “atenção focada, alterações de humor, desejo, obsessão, compulsão, distorção da realidade, dependência emocional, mudanças de personalidade, assumir de riscos e perda de autocontrolo”(Fisher et al., 2010).
A dependência ao sexo é caracterizada por uma atividade sexual fora de controlo, em que a pessoa se sente compelida a continuar com os seus comportamentos de natureza sexual (que se podem tornar desviantes). Centra-se nos efeitos prazerosos excitantes, ao invés de na intimidade. O(a) adit@ fará qualquer coisa para atingir o estado de prazer e euforia, muitas vezes desconsiderando o seu bem-estar e o bem-estar dos outros, conduzindo a um impacto negativo em várias áreas da sua vida (e.g. profissional, financeira, etc..), o que causa dor emocional, sofrimento e perda.
Entre as manifestações da adição a sexo temos:
- Pensar obsessivamente sobre sexo;
- Tentar controlar e/ou parar impulsos/comportamentos sexuais, mas não conseguir;
- Usar excessivamente pornografia (e.g. visualizar pornografia em locais inapropriados);
- Masturbar-se de forma disfuncional (e.g. masturbar-se em público);
- Envolver-se com múltipl@s parceir@s sexuais;
- Ter vários relacionamentos extraconjugais sem o consentimento d@ parceir@;
- Necessitar de mais atividade sexual ou de formas mais extremas (dessa mesma atividade) para sentir o mesmo prazer;
- Envolver-se em comportamentos sexuais de risco;
- Recorrer frequentemente a trabalhador@s do sexo;
- Usar excessivamente/preocupar-se com encontros pela internet, linhas de chat de sexo e cibersexo;
- Usar o sexo para lidar com a ansiedade, stress ou tédio;
- Necessitar de sexo para se sentir desejad@, poderos@ ou importante;
- Praticar voyeurismo (observar os outros), perseguição ou exibicionismo;
- Sentir-se compelid@ a procurar comportamentos sexuais “emocionantes”, devido à construção de uma tolerância a atividades sexuais mais “mundanas”;
- Sentir intensa culpa e vergonha após cada encontro sexual;
- Perder o interesse em atividades, hobbies, atividades ou acontecimentos que, antes, eram importantes para si;
- Negligenciar responsabilidades pessoais e financeiras em favor da atividade sexual;
- Sentir-se incapaz de ser íntim@ com um(a) parceir@ porque est@ não produz o nível de prazer desejado.
A dependência ao amor é considerada uma perturbação de vinculação/de apego, descrita como uma necessidade incontrolável e avassaladora da pessoa se sentir amada, ou seja, a pessoa torna-se dependente da atenção, do afeto e da intimidade de um parceiro romântico e apresenta uma postura obsessiva perante os relacionamentos.
O adito ao amor vai a extremos para encontrar o amor e, frequentemente, envolve-se em relacionamentos disfuncionais , que consistem em agradar constantemente à pessoa por quem estão apaixonad@s, mesmo que tal implique comprometer as suas necessidades e o seu bem-estar.
Embora a maioria dos aditos ao amor se apaixone muito rapidamente, estes tendem a ter dificuldades em lidar com relacionamentos de longo prazo devido à sua necessidade constante de procura de atenção e segurança e de dependerem do outro para o seu bem-estar emocional.
Vejamos as características de uma pessoa com dependência ao amor :
- Sentir a necessidade constante de estar numa relação;
- Estar apegad@ e fantasiar constantemente acerca de um relacionamento idealizado;
- Ter um medo excessivo de ficar sozinh@;
- Comprometer-se e apaixonar-se por um(a) parcei@ sem realmente conhecê-l@;
- Mudar constantemente de uma relação para outra em busca de amor;
- Permanecer em relações abusivas e/ou prejudiciais;
- Sentir-me maioritariamente insatisfeit@ num relacionamento;
- Tornar-se obcecad@ e excessivamente dependente de um parceir@;
- Fazer sacrifícios pessoais e/ou negligenciar as suas próprias necessidades para agradar a um(a) parceir@;
- Sentir-se solitári@, deprimid@ ou “perdid@” quando se encontra solteir@;
- Apresentar comportamentos destrutivos após o término de uma relação;
- Isolar-se do seu círculo de amigos/família quando se encontra numa relação;
- Ser ciument@ e possessiv@ quando um(a) parceir@ fala ou passa tempo com outras pessoas;
- Seguir ou perseguirum(a) parceir@;
- Negligenciar responsabilidades pessoais, profissionais e financeiras para se poder focar n@ parceir@;
- Perder o interesse em atividades, atividades ou acontecimentos que já foram importantes para si e dedicar todo o seu tempo em busca da relação ideal;
- Colocar a responsabilidade do seu bem-estar emocional nos comportamentos dos outros.
Pode ser difícil admitir que apresenta alguns destes comportamentos e que precisa de ajuda profissional. Este é um problema crescente e recorrente que faz com que a pessoa se sinta inadequada, deprimida e ansiosa. Se reconhece em si ou em alguém querido alguma das características mencionadas, a intervenção terapêutica pode ser necessária.
Natacha Cabete